O destaque dessa última semana foi
o referendo que liberou o aborto na Irlanda. Sendo a Irlanda um país de muita
tradição católica e com quase 80% da sua população afirmando seguir ainda essa
religião, foi com certo rebuliço que o mundo recebeu essa notícia, sobretudo
pela margem assombrosa com que os abortistas venceram: mais de 66% dos
votantes.
A pergunta a se fazer é essa:
"como foi possível um resultado desses num país de maioria católica?"
Todos sabem que a Igreja Católica é o último bastião pró-vida do mundo. Por
isso ela é tão criticada pela ONU, mídia e ONGs abortistas em toda a parte. A
Irlanda parece ter sido escolhida a dedo para ser a pedra da vez. Tudo pareceu
muito bem planejado, ONGs esquerdistas despejaram milhões em campanhas
pró-aborto, e até bandas de rock consagradas como o U2 que eram tidos como bons
moços, emprestaram sua imagem para defender a liberação desse nefasto crime. Em
que pese tudo isso, a principal causa da derrota da causa da vida na Irlanda
não foi nem a grana, nem o empenho dos abortistas, mas sim a tibieza dos
católicos de lá, que não conseguiram se mobilizar para repelir esse terrível
mal. Uma igreja local já enfraquecida no seu testemunho por escândalos recentes
no clero ajudou a jogar a pá de cal nessa triste situação.
A fim de se evitar o efeito Orloff
(“Eu sou você amanhã”), é preciso que todo o mundo católico ponha as barbas de
molho e ligue a luz de alerta. Reajamos, porque os maus agem no silêncio e na
omissão dos bons.
Vivemos tempos de profundo
relativismo moral, uma verdadeira “ditadura do relativismo” tão brilhantemente
denunciada pelo hoje Papa Emérito Bento XVI. Cada um, mesmo na Igreja, parece
querer ditar suas próprias regras morais, a despeito dos mandamentos que o
próprio Senhor nos deixou. Poucos se levantam contra esse que é um dos
principais males da nossa época. Quase ninguém corrige o erro, quer
privadamente, quer publicamente, a ponto deste ir ganhando status de verdade no
meio católico. O católico “self-service”, aquele que escolhe o que quer
acreditar na Igreja, vai se tornando cada dia mais representativo.
Essa mentalidade frouxa e
malformada dos católicos é a matéria prima para que desgraças como a da Irlanda
se repitam. Urge que todos os que creem busquem se formar e se informar sobre
sua Fé, para que com a graça de Deus deem um testemunho profícuo em seus
ambientes diários. Não podemos mais nos dar ao luxo de apenas esperar uma
exortação de um pároco ou vigário para nos formarmos, é preciso ir atrás da formação
o quanto antes. Cada um compre logo o seu CIC (Catecismo da Igreja Católica),
ou o “baixe” pela internet e o devore logo, porque os tempos são maus. Lá
encontraremos o que nos é necessário para termos uma vida reta e conforme os
desígnios de Deus, que não nos negará sua Graça, se a Ele nos confiarmos com
Fé, na vida e na oração.
São João Paulo II em sua brilhante
encíclica “Evangelium Vitae”, no item 13 já denunciava que o terrível
pecado/crime do aborto estava profundamente ligado à mentalidade contraceptiva
de nossos tempos. Apesar de aborto e contracepção serem pecados de gravidade e
natureza diferentes, ambos possuem a mesma raiz que consiste em enxergar a vida
humana, propriamente os filhos, como um peso ou estorvo.
É dessa concepção egoísta e
medíocre de vida que surgem pretextos para evitar ou mesmo eliminar os filhos.
Infelizmente, poucos em nossas paróquias e dioceses conseguem fazer essa
associação. Quantas moças católicas fazem uso de DIU, pílula do dia seguinte
(que são micro abortivos) e contraceptivos como se fossem a coisa mais natural
do mundo? A cultura do aborto e, portanto, cultura de morte, se nutre dessa
ignorância e insensibilidade. Se quisermos combater o terrível pecado do
aborto, precisamos combater também as ideias que o sustentam que estão
enraizadas numa mentalidade contraceptiva/hedonista que já é tida por muitos,
como normal e irreversível.
Vivamos nossa Fé com coragem e
integridade. Não temamos incompreensões e isolamento. São Paulo já nos
admoestava em Romanos 8, 18. que "o sofrimento do tempo presente não
tem proporção alguma com glória futura". Cristo quer ser anunciado com
a nossa vida e palavra, sejamos fiéis.
Voltemos à Irlanda. Fizeram um
referendo para se suprimir um direito fundamental, que é o direito à vida, como
se o resultado de uma votação qualquer, vencida por uma maioria ocasional
pudesse se sobrepor a realidade das coisas. Colocar em votação tais realidades,
desrespeitando os limites impostos pela própria natureza é arbítrio, tirania,
uma verdadeira aberração. Isso corrói as estruturas da sociedade, gerando o
caos e as sementes para a destruição da mesma. Tal referendo por si só, já é
uma amostra de quão doentes e confusas estão as sociedades do nosso tempo.
Vendo as fotos das irlandesas
comemorando, com largos sorrisos nos rostos, a possibilidade de matar seus
filhos em seus próprios ventres sem que pudessem ser punidas por esse ato
nefando, inevitavelmente ponho-me a pensar como que um cidadão comum dos
séculos futuros, ao se deparar com esse registro histórico de diabólica
"felicidade" explicaria tal cena para um filho?
Do que adianta tanto progresso
material e tecnológico, se a moral decair? Um mundo que vira as costas para
Deus e suas leis, cai no mais profundo abismo.
Vinde ó Deus em nosso auxílio, socorrei-nos sem demora.
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