Pular para o conteúdo principal

A hipertrofia da obediência em tempos de inversão

(Atenção: o intuito do presente artigo não é o de desvalorizar a obediência, que é uma virtude, e nem mesmo de longe, é algum tipo de convite a uma desobediência, mas seu objetivo é tão somente o de chamar a atenção para um fenômeno curioso que ocorre em nosso tempo, que merece ser sublinhado)

Já pararam para pensar que em nossos tempos, em que a revolução alcançou o seu auge, solapando as bases religiosas e morais da sociedade, construindo  um mundo sem lugar para Deus e seus valores,  e  consequentemente sem sentido, não é estranho que se fale e exija tanto obediência  como agora? Não é  um paradoxo que numa sociedade e cultura completamente rebeldes, se valorize tanto a obediência? Como entender semelhante fenômeno?

Será que a obediência tão exaltada atualmente, seria aquela mesma virtude cristã outrora conhecida e praticada, e tão necessária para um ordenado viver e a busca do bem comum e das almas? Infelizmente, a obediência que muitas vezes é valorizada em nosso tempo parece estar mais para um servilismo humilhante, que exigiria um rebaixamento da capacidade racional do homem, do que para a conhecida obediência cristã.

Olhando para a nossa atual sociedade, muitas vezes experimentamos uma sensação estranha, como se estivéssemos inseridos num grande jogo, onde somos pontuados de acordo com a nossa adequação ou conformidade. Isso vale para se conseguir uma certa inserção em algum novo ambiente, no meio profissional, ou até mesmo na Igreja, onde o carreirismo também existe e é uma triste e presente realidade.

Quantos empregados não estão dispostos a obedecer em tudo aos seus superiores, simplesmente por uma facilitada ou adiantada na sua promoção? Quantos não estão dispostos a renunciar aos próprios valores só para não perderem os seus atuais privilégios? E quantas vezes isso não vem acobertado por um bonito verniz de obediência?

Essa atual distorção ou falsificação da virtude da obediência é consequência direta do materialismo, ou do ateísmo prático que nos permeia. Quando se arranca Deus e a vida eterna da equação, tudo desmorona. Deus é o fim último da nossa obediência, e por isso mesmo norteia e ilumina a nossa obediência aos entes intermediários. Quando não se tem uma Fé madura, a obediência em algumas situações pode se desvirtuar, e isso é muito mais comum do que se possa imaginar.

A única forma de se recuperar o verdadeiro conceito de obediência é nos libertarmos do atual materialismo e retornar à centralidade de Deus em todos os âmbitos da nossa sociedade. Sem Deus como fundamento da vida em sociedade, a lei natural é esquecida,  e o positivismo se absolutiza. 

Tudo só irá se ordenar quando deixarmos Jesus e o seu Evangelho salgar nossos corações, famílias e sociedades, e nos submetendo docilmente ao seu jugo leve e suave. Enquanto não fizermos isso, nos afundaremos cada vez mais na dor, no sofrimento e na desesperança. Só há um caminho para as nossas sociedades decadentes: Jesus Cristo e a verdadeira obediência a sua lei perfeitíssima.

Que o bom Deus nos ajude a sermos verdadeiramente obedientes e também corajosos  para não sermos servis quando as situações assim o exigirem.

Comentários