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CARDEAL BRANDMÜLLER ACUSA DE HERESIA E APOSTASIA O SÍNODO DA AMAZÔNIA

Cardeal Walter Brandmüller, um dos cardeais remanescentes que assinaram as dubia, emitiu hoje, 27, uma forte crítica ao documento de trabalho (Instrumentum Laboris) elaborado para o próximo Sínodo Pan-Amazônico, e referiu-se a ele como um documento “herético”uma “apostasia” da Revelação Divina. Ele ainda exortou aos líderes da Igreja para que “rejeitem” com “máxima firmeza” tal documento.

“Deve-se estar firmado agora, com insistência, que este Instrumentum Laboris contradiz o ensino irrevogável da Igreja em pontos cruciais e, portanto, tem de ser qualificado como herético”, escreveu o Prelado alemão de 90 anos em um documento publicado, simultaneamente, pelo portal LifeSiteNews e pelo site de notícias austríaco Kath.net.

“Visto que, neste documento, até o fato de ser questionada ou mal compreendida a Revelação Divina, pode-se falar agora, além disso, em apostasia”, declarou o Cardeal Brandmüller, estudioso renomado da história da Igreja.

O Catecismo da Igreja Católica (§ 2089) define “heresia” como: “a negação pertinaz, depois de recebido o Batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma”. O mesmo parágrafo (2089) continua e define “apostasia” como: “o repúdio total da fé cristã”.

O Cardeal afirmou que o foco em promover um sínodo em uma região com população relativamente pequena, metade do tamanho populacional da Cidade do México, é “motivo de suspeição em relação às verdadeiras intenções” por trás deste encontro ecumênico.

Neste documento, lançado no último dia 17 de junho em preparação para o Sínodo de outubro, ele questionou o porquê de ter, em praticamente três quartos dos tópicos, afirmações que apenas marginalmente relacionavam-se com “o Evangelho e a Igreja”.

O Prelado discorda veemente da “avaliação muito positivista das religiões naturais, o que inclui as práticas de cura indígenas e afins, até mesmo as práticas mítico-religiosas e suas formas de culto” e acrescenta que a própria “noção de inculturação é pervertida no documento”.

E, então, o Cardeal continua sua crítica ao documento por forçar uma “abolição do celibato” e introduzir um caminho para o “sacerdócio feminino”.

“É impossível esconder o fato de que esse “sínodo” é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambicionados e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas. Em todo caso, trata-se de ‘levar em conta o papel central que as mulheres desempenham hoje na Igreja da Amazônia’ (§ 129 a3). E da mesma forma, é uma questão de ‘abrir novos espaços para se recriar os ministérios adequados a este momento histórico. Chegou a hora de ouvir a voz da Amazônia…’ (§ 43)”

Ele apresentou as palavras do Papa João Paulo II que já havia “declarado, com máxima autoridade magisterial, que não está nas mãos da Igreja o poder de administrar o sacramento da Ordem para mulheres”. Em sua Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, João Paulo II declarou que “a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.”

O Prelado alemão seguiu sua crítica ao documento por ser um “ataque direto à constituição hierárquico-sacramental da Igreja, quando acredita que seria oportuno ‘voltar a considerar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder de governo) deve estar vinculado em todos os âmbitos (sacramental, judicial e administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem.’ (§ 127)”.

Ao concluir, o Cardeal Brandmüller afirmou que “testemunhamos uma nova forma do modernismo clássico do início do século XX” neste documento, ligado a uma falsa compreensão do desenvolvimento do dogma, que “está fortemente em oposição ao pensamento católico genuíno”.

Assim, certos aspectos deste documento de trabalho devem ser avaliados ou como “heréticos”, ou até como uma forma de “apostasia”, afirmou o Cardeal.

“O Instrumentum laboris para o sínodo da Amazônia constitui um ataque aos fundamentos da fé, de uma forma que até hoje não foi considerado possível. E, portanto, deve ser rejeitado com a máxima firmeza.

Abaixo disponibilizamos a tradução integral da crítica feita pelo Cardeal Walter Brandmüller (créditos pela tradução: Fratres in Unum).

Uma crítica ao Instrumentum Laboris para o Sínodo da Amazônia

Por Cardeal Walter Brandmüller

27 de Junho de 2019

Introdução


De fato, pode causar espanto que, em contraste com as assembleias anteriores, desta vez o sínodo dos bispos se ocupe exclusivamente de uma região da terra cuja população é apenas a metade daquela da Cidade do México, ou seja, 4 milhões. Isto também causa suspeita no tocante às verdadeiras intenções que alguns gostariam de ver implementadas sub-repticiamente. Mas, acima de tudo, devemos nos perguntar quais são os conceitos de religião, de cristianismo e de Igreja que são a base do recém-publicado “Instrumentum laboris”. Tudo isso será examinado com o apoio de elementos individuais do texto.

Por que um Sínodo nesta região?


Para começar, precisamos nos perguntar por que um sínodo de bispos deveria tratar de temas que — como é o caso de três quartos do “Instrumentum laboris” — têm só marginalmente algo relacionado com os Evangelhos e a Igreja. Obviamente, que a partir deste sínodo de bispos, realiza-se uma intromissão agressiva em assuntos puramente mundanos do Estado e da sociedade do Brasil. Há que se perguntar: o que a ecologia, a economia e a política têm a ver com o mandato e a missão da Igreja?

E acima de tudo: que competência profissional e autoridade tem um sínodo eclesial de bispos para emitir declarações nesses campos?

Se o sínodo dos bispos realmente o fizesse, isso constituiria uma invasão e uma presunção clerical, que as autoridades estatais teriam todo motivos para repelir.

Sobre as religiões naturais e a inculturação


Há outro elemento a se levar em conta, que é encontrado em todo o “Instrumentum laboris”: vale dizer, a avaliação muito positiva das religiões naturais, incluindo práticas curativas indígenas e similares, bem como práticas e formas de cultos mítico-religiosos. No contexto do chamado à harmonia com a natureza, fala-se até de diálogo com os espíritos (§ 75).

Não é apenas o ideal do “bom selvagem” esboçado por Rousseau e pelo Iluminismo, que aqui é comparado com o decadente homem europeu. Essa linha de pensamento vai além, até o século XX, culminando com uma idolatria panteísta da natureza.

Hermann Claudius (1913) criou o hino do movimento operário socialista: “Quando andamos lado a lado …”, e numa estrofe se lê: “Verde das bétulas e verde das sementes, que a velha Mãe Terra semeia com as mãos cheias, com um gesto de súplica para que o homem se torne seu … “. Vale notar que este texto foi posteriormente copiado no livro de cânticos da Juventude Hitlerista, provavelmente porque correspondia ao mito do “sangue e solo” nacional-socialista. Esta proximidade ideológica deve ser enfatizada: esta rejeição antirracional da cultura “ocidental” que sublinha a importância da razão, é típica do “Instrumentum laboris”, que fala respectivamente da “Mãe Terra” no § 44 e do “grito da terra e dos pobres” no § 101.

Consequentemente, o território – isto é, as florestas da região amazônica – pasmem, vem até declarado como um “locus theologicus”, uma fonte especial de revelação divina. Nela haveria lugares de uma epifania em que se manifestam as reservas de vida e sabedoria do planeta e que falam de Deus (§ 19). Além disso, a consequente regressão do Logos ao Mythos é elevada a um critério do que o “Instrumentum laboris” chama de inculturação da Igreja. O resultado é uma religião natural com uma máscara cristã.

A noção de inculturação é aqui virtualmente distorcida, pois na verdade significa o oposto do que a Comissão Teológica Internacional havia apresentado em 1988 e diferente do que havia ensinado anteriormente o decreto “Ad Gentes” do Concílio Vaticano II, sobre a atividade missionária da Igreja.

Sobre a abolição do celibato e a introdução de uma sacerdócio feminino


É impossível esconder o fato de que esse “sínodo” é particularmente adequado para implementar dois dos projetos mais ambicionados e que nunca foram implementados até agora: a abolição do celibato e a introdução de um sacerdócio feminino, a começar por mulheres diaconisas. Em todo caso, trata-se de “levar em conta o papel central que as mulheres desempenham hoje na Igreja da Amazônia” (§ 129 a3). E da mesma forma, é uma questão de “abrir novos espaços para se recriar os ministérios adequados a este momento histórico. Chegou a hora de ouvir a voz da Amazônia … “(§ 43).

Mas aqui se omite o fato de que, conclusivamente, até mesmo João Paulo II já havia afirmado, com a mais alta autoridade magistral, que não está no poder da Igreja administrar o sacramento da ordem às mulheres. De fato, em dois mil anos, a Igreja nunca administrou o sacramento da ordem a uma mulher. O pedido que se coloca em oposição direta a este fato mostra que a palavra “Igreja” é agora usada exclusivamente como termo sociológico pelos autores do “Instrumentum laboris”, implicitamente negando o caráter sacramental-hierárquico da Igreja.

Sobre a negação do caráter hierárquico-sacramental da Igreja


De maneira semelhante – embora com expressões bastante passageiras – o § 127 contém um ataque direto à constituição hierárquico-sacramental da Igreja, quando se pergunta se não seria oportuno “reconsiderar a ideia de que o exercício da jurisdição (poder do governo) deve estar conectado em todas as áreas (sacramental, judicial, administrativo) e de maneira permanente ao sacramento da ordem”. É a partir dessa visão tão errada que surge no § 129, o pedido para se criar novos ofícios que correspondam às necessidades dos povos amazônicos.

Todavia, é no campo da liturgia e do culto, no qual a ideologia de uma inculturação falsamente entendida encontra sua expressão de maneira particularmente espetacular. Aqui, algumas formas das religiões naturais são assumidas positivamente. O “Instrumentum laboris” (§ 126) não se retrai em pedir que “os povos pobres e simples” possam expressar “a sua (!) Fé através de imagens, símbolos, tradições, ritos e outros sacramentos (!!)” .

Isto certamente não corresponde aos preceitos da constituição “Sacrosanctum Concilium” e nem aos do decreto “Ad gentes” sobre a atividade missionária da Igreja, e mostra uma compreensão puramente horizontal da liturgia.

Conclusão


Summa summarum: o “Instrumentum laboris” acusa o sínodo dos bispos e, definitivamente, o próprio papa de uma violação grave do “Depositum Fidei”, que significa como consequência, a autodestruição da Igreja ou a transformação do “Corpus Christi Mysticum” em uma espécie de ONG secular com um papel ecológico-social-psicológico.

Depois dessas observações, naturalmente, abrem-se outras questões: pode-se encontrar aqui, especialmente no que diz respeito à estrutura hierárquica sacramental da Igreja, uma ruptura decisiva com a Tradição Apostólica como constitutiva da Igreja, ou melhor, os autores têm noção do desenvolvimento da doutrina que está sendo teologicamente substituído, a fim de justificar as rupturas acima mencionadas?

Este parece ser realmente o caso. Estamos testemunhando uma nova forma do Modernismo clássico do início do século XX. Na época, deu-se início a uma abordagem decididamente evolucionista e depois foi apoiada a ideia de que, no curso do contínuo desenvolvimento do homem a níveis mais elevados, seriam encontrados igualmente níveis mais elevados de consciência e cultura, o que significaria que o que era falso ontem poderia ser verdade hoje. Essa dinâmica evolutiva também foi aplicada à religião, isto é, à consciência religiosa com suas manifestações na doutrina, no culto e, naturalmente, também na moralidade.

Mas aqui, então, pressupõe-se uma compreensão do desenvolvimento do dogma que é claramente oposto ao entendimento católico genuíno. Este último compreende o desenvolvimento do dogma e da Igreja não como uma mudança, mas sim como um desenvolvimento orgânico de um assunto que permanece fiel à sua identidade.

É isso que os Concílios Vaticano I e II nos ensinam em suas constituições “Dei Filius”“Lumen Gentium” e “Dei Verbum”.

Portanto, deve ser dito hoje com força que o “Instrumentum laboris” contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como um documento herético. Dado que mesmo o fato da revelação divina é aqui questionado, ou mal entendido, deve-se também falar, que além disso, é apóstata.

Isto é ainda mais justificado à luz do fato de que o “Instrumentum laboris” usa uma noção puramente imanentista da religião e considera a religião como o resultado e a forma de expressão da experiência espiritual pessoal do homem. O uso de palavras e noções cristãs não consegue esconder que elas são simplesmente usadas como palavras vazias, independentemente do seu significado original.

“Instrumentum laboris” para o sínodo da Amazônia constitui um ataque aos fundamentos da fé, de uma forma que até hoje não foi considerado possível. E, portanto, deve ser rejeitado com a máxima firmeza.
Fonte: https://centrodombosco.org/

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