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Católicos de verdade

Acabei de ver mais um vídeo do Padre Paulo Ricardo. Padre Paulo Ricardo é um corajoso sacerdote de Cuiabá-MT, muito inteligente e ungido. É também o reitor do seminário local. Após passar por um grande susto durante uma turbulência num avião, ele mudou radicalmente a sua forma de pensar e agir, e de acordo com o seu próprio testemunho em vídeo, deixou de lado suas ambições pessoais e passou a viver como se cada dia de sua vida fosse o último.

Padre Paulo Ricardo diz o que é preciso ser dito, e pronto. Não se preocupa se será perseguido por colegas de sacerdócio (que há pouco tempo escreveram uma carta infame ao seu bispo), nem teme caso desagrade algum “cacique” da atual política nacional. Padre Paulo Ricardo ama a Verdade e por ela expõe cotidianamente seu pescoço. Um verdadeiro sacerdote do Deus Altíssimo. Anuncia Jesus Cristo de maneira plena, integral e não versões adocicadas do Cristianismo, por isso mesmo ele conquistou o Brasil com suas pregações. É um novo João Batista enviado pela Providência para denunciar as mazelas do nosso tempo.

Infelizmente, ações como as de Padre Paulo Ricardo não são tão comuns neste país. O silêncio atual de tantos pastores diante das mais diversas ameaças à vida, à família ou mesmo à liberdade religiosa chega a ser constrangedor. Quantas vezes ouvimos na igreja que o governo do PT está prestes a implantar uma assistência pré-aborto no SUS? Ou que existe um Plano Nacional dos Direitos Humanos que quer regulamentar a profissão de prostituta? Ou que o governo deseja retirar os crucifixos da repartição pública, ou ainda, que querem doutrinar nossas crianças para que aceitem o homossexualismo como algo normal? A faca já está no pescoço, irmãos, e continuamos a dormir em berço esplêndido porque quem deveria gritar, se calou, infelizmente.

Novos inimigos surgiram em nosso tempo e o marxismo cultural é, sem dúvida, um dos mais perigosos. Por causa dos escândalos e fracassos do comunismo, os seus adeptos optaram por uma forma mais light de socialismo, houve na verdade uma readaptação, onde se passou a pregar uma revolução socialista baseada não na força, mas na cultura. Tal revolução buscava ocupar gradualmente os espaços na sociedade através das universidades, meios de comunicação, escolas, literatura, arte e principalmente política/governo a fim de produzir uma nova cultura dominante marxista e anticristã.

Paralelo a tudo isso se disseminou principalmente na América Latina, uma teologia da libertação herética, eivada de marxismo que causou tantos danos à Igreja e que até nos dias de hoje ainda é possível sentir suas graves e nefastas consequências. Essa teologia que impregnou e ainda influencia nossos seminários e paróquias, tem em Leonardo Boff e Frei Betto seus principais expoentes no Brasil.

Temos então o seguinte quadro: marxismo cultural corrompendo a sociedade de um lado e teologia da libertação paralisando parte do clero do outro. Alguém já bem disse uma vez: “o peixe não consegue ver a água”, ora, não é nenhuma novidade, que muitos dos nossos jovens seminaristas foram envenenados sutilmente por marxismo por ação de inimigos infiltrados na Esposa de Cristo, e isso por décadas a fio. Por conta disso, agora como sacerdotes, alguns deles apresentam dificuldades em perceber no marxismo cultural um perigoso inimigo a ser enfrentado, e isso explica, em parte, o seu  silêncio e ausência de reação, infelizmente.

A catequese cristã foi muito descurada nas últimas décadas. Alguns dentro da Igreja priorizaram mais uma ação político-social como por exemplo, o fomento de sindicatos, filiação em partidos políticos, etc. em detrimento da catequese, e o legado dessa geração muito politizada e pouco catequizada é o atual nível de ignorância religiosa do católico que é assombroso. Povo malformado é povo manipulado, incapaz de se indignar e reagir diante das situações mais absurdas com as quais tem que lidar cotidianamente. Consequência real desse atual catolicismo “café com leite” é que apesar da maioria do povo brasileiro ainda se dizer católico (será mesmo!?), sua voz hoje se faz menos ouvida do que a de minorias articuladas, que defendem abertamente pautas anticristãs, que temos por aí. São muitos os casos que poderia citar que provariam essa pouca relevância atual da opinião católica em nosso país, mas me deterei apenas no recente caso do julgamento do STF sobre a liberação do aborto dos anencéfalos, por considerá-lo emblemático. O que mais me chamou a atenção nesse caso não foi a aprovação da infâmia, que já era esperada dada a sofrível composição do atual STF (oito dos onze ministros foram indicados pelo PT), mas sim a pouca mobilização nacional dos nossos pastores e dos fiéis em relação a um tema tão relevante.

Caso nossa nação fosse profundamente católica, botaríamos sem dificuldades um milhão de pessoas nas ruas de Brasília para fazer vigília e protestos. A vigília ao menos foi realizada, graças aos esforços de alguns inspirados, como o bispo Dom Berzonguini (o Leão de Guarulhos) falecido há pouco. Mas quantos sacerdotes mobilizaram suas paróquias para a oração? Era a hora de se unir, de pensar nos mais indefesos e na defesa dos valores mais caros à humanidade, mas infelizmente muitos não deram a devida atenção ao grave fato.

Outro ponto importante. Desde que o modelo das CEBs se difundiu por nossas dioceses, a comunidade local assumiu uma precedência tal na vida dos fiéis que não é raro ver fiéis que moram a 600, 700 m de uma Igreja onde está sendo celebrada a Santa Missa, e que preferem ir a uma Celebração da Palavra na sua comunidade, simplesmente por ser mais perto. Ora, se até a presença de um católico na Santa Missa aos domingos, que sempre foi um marco inconfundível da Fé Católica, pôde ser facilmente relativizada, o que mais não seria?

Diante de sinais como a perda em massa de fiéis, e principalmente a pouca fidelidade à Igreja daqueles que se dizem católicos, é preciso refletir seriamente sobre o que nos fez chegar a esse estágio em vez de simplesmente continuarmos a ignorá-los.

Cada católico, cada batizado, quando em estado de graça, traz consigo uma força e graça maravilhosas, é a própria Trindade Santa que habita em sua alma. Urge que tomemos consciência daquilo que realmente somos, “sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus” (Efésios 2,19.), e a que Corpo pertencemos, para que com Cristo, Maria e Pedro (no caso, o Papa) possamos produzir os frutos que o Senhor espera de nós. 

Precisamos urgentemente de mais formações de qualidade, restauração da catequese, Santas Missas bem celebradas, verdadeira obediência, mais unidade, mais fidelidade, em suma, mais docilidade a ação do Santo Espírito de Deus. Só assim, unidos profundamente a Cristo, a “videira verdadeira” (João 15,1.) teremos condições de dar um testemunho eficaz e eloquente capaz de salgar e iluminar toda a sociedade, mas se em vez disso continuarmos a desprezar o nosso próprio patrimônio espiritual, como então convencer àqueles que estão do lado de fora a entrar na Barca? 

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