“Quando vier o Filho do Homem, encontrará fé sobre a terra?” (São Lucas 18, 8.)
(Em 29/04/ 2019,
publiquei um primeiro artigo manifestando as minhas preocupações em relação a
este Pontificado. De lá para cá, a crise na Igreja só se agravou, resolvi então
revisitar por agora essa questão enfocando novas situações que tanto tem
afetado a vida dos fiéis católicos)
Foi com grande dor e tristeza que recebi a notícia da renúncia de Bento
XVI no dia 11 de fevereiro de 2013. O mundo católico foi profundamente abalado.
Quando acompanhei pela TV a apresentação de Francisco, após o conclave que
o elegeu, confesso que naquele momento o meu coração não se alegrou, como
seria o normal de se esperar de um católico, mas em vez disso, senti algo
estranho, muito diferente do que vivenciei na eleição de Bento. Verdade que até
poderia guardar essa experiência para mim, mas neste momento, penso que o mais
oportuno é partilhá-la. Acredito que naquela hora, pela bondade do Senhor, eu tenha recebido uma graça, que tento corresponder da melhor forma possível, mas que devido a minha
fraqueza nem sempre consigo. Fato é que pouco depois da eleição de Francisco,
ao ver que as suas manifestações contra o aborto na JMJ do Rio
foram muito aquém do que eu esperava, e além disso, a sua surpreendente reposta
“quem sou eu para julgar” no seu retorno de avião para Roma quando questionado
sobre os homossexuais e a sua relação com a Igreja (essa reposta do Papa foi
melhor esclarecida num momento posterior), só fizeram aumentar em mim
as preocupações em relação a este pontificado, e isso ainda no seu comecinho.
No entanto, aceitar a realidade (Francisco é o Papa!) tal qual ela se
apresenta é o primeiro passo para que saibamos lidar com ela da forma mais
serena possível. A razão e a confiança na Santa Igreja, Esposa de Cristo,
precisam superar as nossas impressões, gostos, e preferências, caso estes
entrem em conflito com aquelas.
Nestes tempos vejo crescer uma antipatia por Francisco, que não
raramente descamba para ofensas inaceitáveis ao Vigário de Cristo. Por mais que
o momento seja muito difícil e confuso é preciso manter a cabeça no lugar e com
o auxílio da graça de Deus, não pecar. Ainda que alguns possam ter levantado
algumas dúvidas sobre o conclave que elegeu Francisco, é fato que Francisco já está no governo da Igreja há mais
de 10 anos, e sua eleição não foi questionada publicamente por nenhum cardeal
votante, além disso o Cardeal Muller afirmou recentemente que mesmo que tivesse
ocorrido alguma deficiência no conclave que elegeu Francisco, esta teria sido
sanada pelo exercício do cargo. O
sedevacancismo é uma falsa solução, uma tentação perigosa, que ao não reconhecer o Papa reinante acaba também por atacar a
visibilidade da Igreja.
Posto isto, é importante dizer que todo católico que realmente ama a
Jesus e a Igreja não deveria ter ficado indiferente a tudo aquilo que aconteceu
no pontificado de Francisco. Um verdadeiro amor pelo Papa não nos dá o direito
de nos omitirmos nessa hora tão dramática. Passando pelas maneiras estranhas
como foram conduzidos os sínodos da Família, da Amazônia e da Sinodalidade, as
falas e entrevistas tantas vezes impactantes de Francisco, as recepções que ele
deu às figuras controversas, a declaração de Abu Dhabi, a introdução
absurda e sacrílega do ídolo da Pachamama no centro da Fé católica por ocasião
do Sínodo da Amazônia, e finalmente as restrições à Santa Missa Tradicional. Tudo
isso nos causou dor (obviamente que cada coisa tem o seu peso), e a cruz nesses
tempos foi e continua pesada para todos que querem se manter fiéis à Fé
Católica. Ignorar tudo isso, fingir que tudo vai bem, é um mal sinal, e um
silêncio cúmplice jamais será a melhor forma de ajudar o Papa a governar a
Igreja.
A coisa que já andava difícil ganhou contornos assustadores nas últimas
semanas com a estranha e abrupta remoção do fidelíssimo bispo Joseph Strickland
da diocese de Tyler, no Texas. Foi esta a mais recente chaga imposta aos
corações dos católicos americanos e de todo o mundo, que perplexos presenciam,
em tempo real, aquilo que parece ser a aplicação de dois pesos e duas medidas
na Igreja, sobretudo porque nenhuma punição foi imposta, até o momento, aos
bispos alemães e belgas que estimulam seus padres a abençoarem pares
homossexuais, o que é um completo absurdo e um gravíssimo escândalo na Igreja.
É preciso que cada católico compreenda melhor a real
função do Papa que é o sucessor de Pedro e não de Cristo, logo, um Papa, jamais poderá mudar (e nem se deve criar expectativa a este respeito) a lei natural, os mandamentos, e nem a Sagrada
Escritura, mas antes deve resguardá-los e difundi-los na sua integridade.
Nessa gravíssima crise que pesa sobre a Igreja, Deus nos pede que cresçamos na
Fé, e para isso precisamos pedir constantemente essa graça a Ele.
Correspondamos às demandas do nosso tempo com mais oração e estudo. Um católico
malformado pode acreditar, por exemplo, que o vigário da sua paróquia teria
poder para autorizar uma pessoa em contumaz pecado mortal público a comungar,
mas isso jamais foi verdade. O servilismo dos fiéis não é saudável e pode contribuir para alimentar a tirania dentro da Igreja. Urge que todos conheçam os
ensinamentos da Igreja contidos no catecismo, sobretudo em tempos que parte mais progressista da
hierarquia começa a colocar audaciosamente as manguinhas de fora,
sem ter, no entanto, a esperada repreensão de Roma.
A Divina Providência permitiu esses tempos estranhos e difíceis, e não
há como negar que em nosso tempo, o joio presente na Igreja esteja se revelando
com toda a sua feiura e maldade, e com isso se realce também o
trigo.
Mantenhamos viva a esperança de que para Deus tudo é possível, e podemos
sim, esperar ainda uma grata surpresa antes do fim desse Pontificado. Seja como
for, continuemos na barca da Igreja, com o sucessor de Pedro, ainda que nesta, possa parecer que se
esteja fazendo água por todo o lado. Fato é que Jesus continua nela, e basta
uma única palavra do Senhor para que tudo se aquiete. Tenhamos Fé e paciência.
Aos que leram este artigo até aqui, peço por favor que interpretem
generosamente minhas palavras. Não quero que elas diminuam em nada no coração
dos leitores o amor pelo Santo Padre, que é algo inerente ao católico, mas
antes que os ajude a entender o momento gravíssimo pelo qual estamos passando
na Igreja. Não é brincadeira, meus irmãos, como ouvi recentemente numa
dessas homilias online, "se não for o fim dos tempos, parece".
As críticas justas, verdadeiras e pontuais em questões que possam afetar
a salvação das almas dos católicos não devem ser vistas como um denuncismo
inócuo, mas como uma forma de colaborar com o Santo Padre no exercício do seu
ministério. A bajulação, e o silêncio cúmplice é o que realmente podem
atrapalhar o Papa.
Amemos o Santo Padre, rezemos muito por ele, que o Divino Espírito Santo
o ilumine e fortaleça para cumprir bem a sua missão que é a de nos apascentar e
nos confirmar na Santa Fé Católica.
Salve Maria Imaculada e Viva Cristo Rei!
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