Pular para o conteúdo principal

Ambiguidades perturbadoras no pontificado de Francisco.

"Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe francamente, porque era censurável" 
(Gálatas 2, 11.)

Infelizmente, desde o seu início, o pontificado de Francisco tem sido marcado por vários episódios de falta de clareza que tem causado estranheza e perturbado a muitos fiéis. Destaco, em especial, a estranhíssima maneira como foram conduzidos os dois Sínodos da Família, logo no comecinho do seu pontificado; as ambiguidades do capítulo oitavo da  Amoris Laetitia, expostas pela Dubia de quatro eminentes cardeais (dois já falecidos) e que até hoje não foram esclarecidas formalmente pelo Santo Padre; as esquisitas celebrações dos 500 anos da “Reforma” Protestante e finalmente a assinatura de uma declaração conjunta com o imã de Abu-Dhabi em abril deste ano , onde pode ser ler, numa mesma frase, a problemática afirmação que a diversidade e o pluralismo das religiões estaria dentro dos desígnios de Deus assim como estariam a diversidade de cor, sexo, raça e língua: "O pluralismo e as diversidades de religião, de cor, de sexo, de raça e de língua fazem parte daquele sábio desígnio divino com que Deus criou os seres humanos." (http://senzapagare.blogspot.com/2019/03/d-athanasius-pediu-e-o-papa-francisco.html?m=1). 

Exatamente por causa dessa última ação de Francisco, ele foi interpelado respeitosamente por um corajoso e vigilante bispo do Cazaquistão, em sua recente visita ad limina, onde este conseguiu extrair do Pontífice uma explicação verossímil para a estranha afirmação contida no acordo. Nesta explicação, Francisco afirmou ao bispo, que o sentido da mensagem contida na declaração conjunta era a vontade permissiva de Deus. Melhor que seja assim, mas o estrago ainda permanece, uma vez que o grave prejuízo público de tal documento não pode ser remediado por uma explicação dada em privado, ainda que o Papa também tenha publicamente em um dos seus Angelus a ratificado. Reafirmo que para maior clareza e segurança do rebanho, seria fundamental que Papa Francisco retificasse logo a declaração conjunta, para que não ficasse registrado num documento público e oficial, um pensamento que sem a devida explicação e acompanhamento, poderia ser facilmente interpretado como não-católico em sua essência. Da letra fria do texto, católicos malformados do presente e do futuro poderiam erroneamente extrair que a religião católica, esta sim de origem divina, estaria nivelada com àquelas criadas pelos homens, e por conta disso, por extrapolação ou analogia, alguns poderiam até mesmo ser induzidos, no pior cenário, a pensar que Jesus Cristo, o Verbo de Deus encarnado, o Filho, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus de Deus, Luz da Luz poderia estar nivelado com homens comuns fundadores das demais religiões. Esta é uma brecha perigosíssima que precisa ser eliminada o quanto antes.  Não se trata aqui de julgar as intenções que Francisco trazia em seu coração ao escrever a declaração conjunta (até porque o Papa já se explicou), mas de uma crítica legítima a um documento que pode produzir interpretações perigosíssimas e que chocou o mundo católico.

Como católico, sempre fui um defensor do Papa e do Papado. Hoje vejo, curiosamente que os críticos frequentes de ontem (mídia secular e teólogos progressistas) cerram fileiras com Francisco como nunca fizeram antes com os demais pontífices, enquanto que críticas pontuais bastante razoáveis a algumas ações e falas públicas de Francisco que parecem destoar da Tradição, por parte de alguns católicos fidelíssimos, são tratadas como heresias e estes como inimigos ou mesmo cismáticos, o que é um absurdo.

É nesse contexto que teremos em outubro próximo o Sínodo dos bispos da Amazônia a se realizar em Roma. Muito se tem falado a respeito desse sínodo e de suas implicações na vida da Igreja. A expectativa em torno dele tem crescido a cada dia, e também as preocupações, digo isso baseado em algumas declarações dos seus próprios organizadores. Confesso que como católico estou muito preocupado e penso que o maior risco desse sínodo seria uma proposta de uma descentralização litúrgica e doutrinal que daria muito mais autonomia aos bispos nessas matérias.  Isso, se acontecer, seria muito perigoso, porque na prática poderia promover o esvaziamento de uma das missões principais do Papado que é exatamente a de garantir a unidade e a pureza da Fé em toda a Igreja. Menos preocupante é o fato de que o caráter de um sínodo seja apenas consultivo, podendo ou não produzir um documento papal após o seu relatório final.

Percebe-se atualmente entre os progressistas dentro da Igreja um certo frenesi que não era comum com os demais Papas. O fato destes se referenciarem todo tempo a Francisco, levanta compreensiva desconfiança.  Francisco como qualquer outro Pontífice merece nosso amor, reverência, verdadeira obediência e respeito e precisa muito mais da nossa oração do que de bajulação.

Reafirmo aqui o meu amor pela Igreja e pelo Papa, por quem sempre rezo. Deixo claro mais uma vez que reconheço as validades da renúncia de Bento XVI, e do conclave que elegeu Francisco. Não me alinho aos que querem a deposição do Papa, e gostaria tão somente que Francisco revisse publicamente e urgentemente, alguns atos confusos de seu Pontificado para o bem da Igreja e salvação das almas.

"Ubi Petrus, ibi Ecclesia; ubi ecclesia ibi Christus” (onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja está Cristo). Os Padres da Igreja afirmavam esta verdade luminosa nos primeiros séculos do Cristianismo, mantenhamos firme a nossa esperança em Deus, que é quem conduz a barca de Pedro, sabendo que por maiores que sejam as tempestades, o Senhor Jesus jamais abandonará a sua Igreja, pois "as portas do inferno não prevalecerão". (S. Mateus 16, 18.).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram" (São Mateus, 2, 11b.)

Este pequeno mas importante versículo narra a primeira atitude que os Magos tiveram diante do menino Jesus, ao encontrá-lo em Belém, após uma exaustiva e duradoura viagem. Iluminados pelo Espírito Santo, viram mais que um simples menino, mas o Deus encarnado, o Deus menino. Uma vez que reconheceram Deus, o que fizeram? Se prostraram diante Dele. Deus merece a nossa adoração, e só Deus merece a nossa adoração, e como não somos apenas espírito, mas também temos um corpo, devemos adorar a Deus com todo o nosso ser, com nossa alma, e também com o nosso corpo.  O ajoelhar-se sempre foi na Igreja um gesto de adoração a Deus. Tanto é assim que na consagração, momento mais solene e importante da Santa Missa os fiéis se põem de joelhos diante do Deus que vem até nós nas espécies do pão e do vinho. Na antiga liturgia, o ajoelhar-se era ainda mais frequente, ocorrendo inclusive no início e no final da Santa Missa. No entanto, nos últimos tempos, o ajoelhar-se diante de Deus, tem incomodado al...

A fala indigna de Hugo Motta e a perigosa invisibilidade dos brasileiros perseguidos pelo regime

Foi com profundo asco e indignação que ouvi o pronunciamento do presidente da Câmara, no último dia 19, por ocasião da comemoração dos 40 anos da redemocratização do Brasil. Como se fosse um boneco de ventríloquo do sistema, Motta foi discorrendo uma série de abusos e perseguições perpetradas por Alexandre de Moraes, nos últimos tempos, mas sempre precedidas por um inacreditável “não tivemos”. Se eu não tivesse visto essa cena acintosa, teria dificuldade em acreditar . Até pode ser possível que Hugo Motta tenha estado numa bolha intransponível nos últimos 5 ou 6 anos, o que sem dúvida, o desabilitaria completamente para ser o presidente de uma casa legislativa, mas a ideia de que ele simplesmente teria agido como mais um agente do sistema que estaria dando a sua contribuição para a consolidação da ditadura de toga e ao mesmo tempo para o seu disfarce,  me parece muito mais crível , lógico e grave. Fato é que subimos de patamar em termos de ditadura. Além da velha mídia, bem pa...

O Brasil despertava há exatos 10 anos.

Fonte: Facebook  Há exatos dez anos, 15/03/2015, o Brasil se levantava para se manifestar de maneira pacífica, ordeira e patriótica contra os desmandos, corrupção e o sequestro de uma nação que a quase todos incomodava e esgotava. Tive a alegria de estar naquela tarde de domingo na Praça do Papa, em Vitória-ES, onde milhares (100.000 aproximadamente!) de espírito-santenses num incrível clima de paz, harmonia e patriotismo verde-amarelo mandaram o seu recado, junto com outros milhões de brasileiros que tomaram as ruas pelo país inteiro. Foi naquele dia que cerca de 30.000 vila-velhenses atravessaram a Terceira Ponte. Foi lindo, inesquecível, de arrepiar! O Brasil de hoje, vítima do Consórcio STF-PT, protegido pela velha imprensa,  parece estar há décadas de distância daquele 15/03. Hoje a tirania e o medo imperam e poucos ousam levantar a voz contra a opressão que vem dos poderosos. O crime deita e rola na nação que prende e condena pais e mães de famílias inocentes e patriotas...